LOST EMPIRES / IMPÉRIOS PERDIDOS

  • 30
    Sábado
    Abril 2016
14.30 h

Exposição de fotografia de Nuno Perestrelointegrada no programa de comemorações do 42.º aniversário do 25 de Abril de 1974.

Inauguração dia 12 de março, sábado, às 16 horas.

De 12 de março a 30 de abril
Horário

De terça a sexta-feira, das 10 às 20.30 horas.
Sábado, das 14.30 às 20.30 horas.
 

Sobre
Uma viagem solitária foi feita até ao passado industrial recente de Portugal, por entre espaços fabris de quatro áreas hoje transformadas em gigantescos cemitérios industriais à espera de novo destino. No seu auge, entre todos eles, chegam a trabalhar 30 mil operários.

Todos estes espaços nas margens do rio Tejo se concentram na área hoje contemplada pelo Arco Ribeirinho Sul. É ao lado do rio que a viagem encontra um elo comum. É o Tejo, pela sua proximidade às rotas atlânticas e ao porto de Lisboa, que determina em grande medida a localização de todas estas indústrias. E são as indústrias já interligadas entre elas que, por sua vez, determinam aquela que é a memória coletiva recente desta região. Mas também a memória de um breve período de forte (e tardia) industrialização em Portugal.

Em Almada tem lugar o expoente máximo desta dinâmica, quando navios gigantescos começam subitamente a entrar nos estaleiros navais da Margueira. A Lisnave, inaugurada em 1967, transforma-se em poucos anos no maior e mais avançado estaleiro naval de toda a Europa e uma referência mundial. Chega a ter perto de 10 mil trabalhadores, e 90 % dos seus clientes eram estrangeiros. Acaba por ser vendida a 1 dólar aquela que é hoje considerada a primeira grande empresa portuguesa orientada para a exportação.

A Lisnave em si já era um produto e extensão natural de uma outra estrutura industrial do Barreiro. O seu mentor, Alfredo da Silva, é ainda hoje uma figura polémica. Mas isso não impede que a sua estátua se tenha mantido intacta no centro de um concelho que altera por completo quando decide trazer para o Barreiro, em 1907, a Companhia União Fabril e fábricas às centenas, ligadas originalmente à produção química. 

A CUF é até aos anos 1970 o maior grupo económico português e produz ácidos, mas também cigarros, tapetes, azeites, rações animais ou adubos, entre muitos outros. Aliás, «o que o país não tem, a CUF cria» fica para a posteridade como o slogan de uma empresa que chega a empregar quase 12 mil pessoas e transforma o Barreiro numa verdadeira cidade-fábrica, cercada tanto pelos muros da produção intensiva como por uma constante nuvem de fumos tóxicos.

Ali ao lado, do outro lado do rio Coina, António Champalimaud põe a funcionar as máquinas do alto-forno da Siderurgia Nacional, uma das exigências da elite industrial e económica portuguesa no século passado. O ministro da tutela de então chega mesmo a afirmar: «um país sem siderurgia não é um país. É uma horta». Desfaz-se a horta e as máquinas da produção do aço, com 6 mil homens ao serviço, arrancam em 1961. A Siderurgia torna-se a terceira maior unidade industrial do país.

Não muito longe dali, milhares de operárias corticeiras já labutam no Seixal desde 1905. São os Mundet, uma família catalã, que ensinam a Portugal que é possível fazer com a cortiça mais do que rolhas. Com isto a Mundet é pioneira em definir o rumo e vigor da indústria da manufatura corticeira portuguesa ao longo de mais de 80 anos. É no Seixal que está a principal de várias fábricas espalhadas pelo país e pelo mundo, e é também a do Seixal a última a fechar as portas, em 1988.

Para trás ficaram os sapatos e pedaços de memória dos operários, os cartazes revolucionários, a documentação das empresas, cartas dos sindicatos e cravos vermelhos de cortiça nas paredes. As roldanas pararam de girar. Derradeiras testemunhas do passado, as máquinas calaram-se e lá continuam. Um estranho e irónico silêncio este, à medida que os efeitos implacáveis do tempo fazem com que a natureza reclame o seu lugar.

Nuno Perestrelo

Público-alvo
Geral

Telefone 210 976 105

Email quintadafidalga@cm-seixal.pt

Preço
Entrada livre

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